Uma corbelha de flores

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O Diabo tenta novamente Raymundo na Vila del Rey. Deseja entrar na Capela Magnificat e ser honrado. “Sou criatura, mas escolhi pensar por mim mesmo. Vocês visam o reconhecimento na eternidade pelo amor de quem nos criou. Eu, ao contrário, lido com coisas mais concretas: lido com o amor aqui na Terra”.

22 de agosto de 2008

Neste dia à tardinha, achei uma corbelha de flores no portão da minha residência com um bilhete: “Coloque estas flores em meus pés”.

Como de vez em quando me acontecem coisas inusitadas, peguei as flores e fui colocá-las na Capela Magnificat, pensando que o Céu é que mandara as flores para Jesus na Eucaristia. Nesse momento reparei que elas estavam passadas, murchas, e deduzi que deviam estar ali já havia algum tempo. Descia o passeio rumo à capela, quando ouvi alguém me chamando do portão:

– Você está indo ao lugar errado, essas flores são para mim.

Era um homem muito bonito, bem vestido, de terno preto e gravata. Quando me voltei, ele continuou:

– Coloque-as nos meus pés.

– Mas você vai querer essas flores velhas?

– Elas não estão velhas.

Olhei para as flores, e elas estavam lindas e viçosas.

– Então vou colocá-las na capela, para Jesus – eu disse.

Aí as flores ficaram murchas.

– Essas flores são para mim – o homem reforçou. Coloque-as nos meus pés.

Olhei para as flores e elas ficaram de novo viçosas. Entendi que estava diante de uma situação diferente, e comecei a ficar com medo. E o homem disse:

– Quero entrar.

– Entre – respondi.

– Retire essas pessoas daí, para que eu passe.

Olhei para trás e vi que o pátio da capela estava repleto de pessoas rezando a invocação: “Graças e louvores se deem a todo momento”. E de dentro da capela vinha a resposta: “Ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento”.

– Você tem medo delas? – perguntei.

– Quando estão sozinhas, não.

– Mas elas estão sozinhas, estão apenas rezando.

– Para quem?

– Acho que é para Jesus.

– Por quê?

– Não sei. Por que você não entra e pergunta a elas?

– Eu sei por quê, apenas queria que você dissesse o porquê.

– Eu não vou dizer – respondi.

– Vocês fazem as coisas pela fé em quem nos criou. Eu, ao contrário, sou criatura mas escolhi pensar por mim mesmo – ele disse rindo.

– Azar o seu – repliquei.

– Azar o seu, porque vocês visam o reconhecimento na eternidade pelo amor de quem nos criou. Eu, ao contrário, lido com coisas mais concretas: lido com o amor aqui na Terra. Vamos lá, coloque as flores nos meus pés – disse sorrindo.

Fui devagarinho descendo o caminho para a capela, no intuito de colocar as flores no altar do Santíssimo. Quando cheguei à sua porta, vi que a corbelha tinha se transformado num amontoado de cobras vivas. Elas caíram no chão e foram todas se arrastando em direção ao homem, que as esperava no portão. Eu procurava as pessoas, mas já não via mais ninguém.

Entrei na capela de mãos vazias. Quando cheguei perto do altar, vi no chão uma corbelha de flores viçosas, e ouvi uma voz:

– Coloque-as aos pés de minha Mãe.

Peguei as flores e fui até o altar de Nossa Senhora, quando ouvi de novo a voz:

– Coloque-as aos pés de minha Mãe.

– Onde, Senhor?…

– Onde Ela sempre fala com você.

Dirigi-me até a cadeira em que Nossa Senhora sempre se assenta, e lá estava Ela me esperando.

Coloquei as flores nos pés da Virgem Maria. Ela então me disse, passando a mão sobre a minha cabeça:

– Estamos vigilantes. Não permitiremos que o Diabo o domine.

Acabando de falar isso, Ela deu um sorriso, pegou as flores que estavam no chão e sumiu na minha frente.

 

Referência: LOPES, Raymundo. Uma Corbelha de flores. In: LEMBI, Francisco. Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 60-61.

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