O Testemunho de João Batista

Jo 1, 19-28

Aqui temos um verdadeiro interrogatório, feito a uma pessoa que não queria responder.

Naquele tempo, a espera do Messias pelos judeus era angustiante. Era premente a sua chegada para salvá-los definitivamente da opressão romana, uma das piores que lhes havia ocorrido. Os judeus sofriam mais com o jugo romano, do que na escravidão do Egito, principalmente porque os romanos interferiam na sua estrutura religiosa, mas não em sua religião. Por isso muitos, vendo como João Batista se apresentava, pensavam ser ele o Messias tão esperado. João era destemido, impetuoso, sagaz, quase mal-educado, parecia um trovão. Configurava aquele desejo dos judeus. Eles esperavam isto mesmo: um homem de fé, forte, que não se intimidasse diante daquele poder dominante, que praguejasse contra eles desmascarando seus atos vergonhosos, fazendo-os cientes de seus erros. Ficaram impressionados com João e foram lhe fazer perguntas.

Naquela época o batismo era comum entre os judeus e na maioria das religiões. Faziam-no com a imersão da pessoa na água, mergulhando-a e retirando-a em seguida. Isto porque o batismo significava purificação. Portanto, João Batista fazia conforme o costume.

Os fariseus¹, de modo geral e no conceito da sociedade da época, eram pessoas dignas, influentes, cumpridoras do Torá². Representados por seus anciãos, tinham assento no Sinédrio³. O mesmo se pode dizer dos doutores da lei, os escribas4, que observavam fielmente a Lei Mosaica. Como no meio do trigo sempre existe joio, Jesus criticava aqueles fariseus que não faziam o que exigiam do povo, ou pelo que faziam por vaidade, buscando reconhecimento.

Portanto, os fariseus que enviaram aquelas pessoas a João estavam bem-intencionados. Não tramavam contra ele, não lhe preparavam uma armadilha, desejavam mesmo era saber o sentido daquele batismo. Queriam saber se ali estava surgindo o Messias, anseio que há muito acalentavam. Este foi o motivo das perguntas que fizeram a João. Assim poderiam se organizar, pois tinham poder de articulação inclusive no Templo. Quiseram escutar de João quem realmente era ele. E João foi lacônico nas três primeiras respostas: "Não sou o Cristo", "Não o sou (Elias)", "Não (o profeta)".

Até que explode numa interessante resposta à quarta pergunta: "Quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?" E João diz: "Sou a voz que clama no deserto…".

Ora, eles esperavam o Messias, imbuídos de esperança, e João sabia disso. Por que, então, ele bradava no deserto? Não se grita no deserto. Mas o deserto do qual falava era o vazio que haveria de ser preenchido com a presença do Messias. Aquela voz que grita no deserto, brada na esperança de Deus, do Messias. Muitas vezes esta passagem é interpretada como uma voz que clama em vão, mas não é. João não gritava em vão. Gritava no vazio daquela espera, sabendo que o Messias já estava ali. Não foi por acaso que estava no rio Jordão. Ele sabia que aquele era o momento certo, que chegava a hora do Cristo: "Aquele (…) do qual não sou digno de desatar a correia da sandália".

É preciso esclarecer o significado deste ato de desatar a sandália.

"E por que, então, batizas, se não és o Cristo nem Elias nem o profeta?" Esse "por quê?" faz com que as pessoas reajam, pensem. E João novamente dá uma linda resposta: "Eu batizo com água. No meio de vós está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália."

Era costume entre os judeus, quando o rapaz não desejasse o casamento com a moça que lhe fora prometida, abrir mão do direito de desposá-la em favor de um irmão que dela gostasse, ou de um descendente direto da família que ele achasse importante. O gesto, considerado bonito, era realizado diante de toda a família, em público. O noivo prometido desatava a correia da sandália do pretendente, a quem entregava aquela que seria a sua noiva. Era um ato excepcional e admirado pelos judeus.

Qual era, então, o grande noivo esperado, prometido? João sabia que era Jesus. Por isso falou que não era digno de desatar a correia de Sua sandália. Quer dizer: não sou digno de passar para esse Homem a honra de esposar a glória de Deus na terra. É isto que João queria falar.

Então, em razão do "por quê?", João desata este lindo discurso: "Sou a voz que clama no deserto…". Está no meio de vocês o legítimo noivo, papel que não sou digno de assumir e para quem tenho de passar. Eu não sou o Messias nem o Elias e nem o profeta. Eu não sou nada. Tenho, neste momento, aquilo que é a minha obrigação: passar a Ele, que está no meio de vocês e que ainda não O conhecem. Não tiveram a honra de desposar essa Boa-Nova, que é o Evangelho, a Nova Aliança de Deus com os homens.

Este é o ponto alto deste Evangelho: João Batista passa a Jesus o comando da Boa-Nova.

 

1 Fariseu: grupo religioso judaico, surgido no século II a.C., que vivia na estrita observância da Escritura e da tradição oral, acusado de formalista e hipócrita por ostentar piedade e virtude sem tê-las, se acreditava dono da verdade e da perfeição e n o

direito de julgar e condenar a conduta dos outros.

 

2 Torá: a Lei Mosaica (doutrina tradicional que receberam de Moisés, adulterada no curso do tempo); livro que contém essa lei, isto é, as escrituras religiosas judaicas, e conhecido como Pentateuco.

 

3 Sinédrio: na Palestina, sob o domínio romano, assembleia judia da classe dominante (sacerdotes, escribas e anciãos) à qual foram atribuídas diversas funções políticas, religiosas, legislativas, jurisdicionais e educacionais. Tinham os pequenos sinédrios de província, e em Jerusalém o Grande Sinédrio: Supremo Tribunal de Justiça, também formado pela classe dominante.

 

4 Escriba: entre os judeus, aquele que lia e interpretava as leis, doutor da lei;

 

Referência: LOPES, Raymundo. O Testemunho de João Batista: Jo 17, 1-26. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 51.

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