Quarta tentativa: Belo Horizonte

Nossa Senhora revela a Raymundo Lopes detalhes sobre a renúncia dos papas em anunciar o retorno de Jesus. “Meu Filho disse que nesta hora não haveria fé na Terra. Onde existe fé, se a sua própria Igreja esconde o seu retorno?”

02 de abril de 2007 

Tinha programado de ir a Tiradentes para providenciar uma coroa para Nossa Senhora de Belém, e não fiz nada. Só pensava no que tinha visto pela manhã; não conseguia me concentrar em outra coisa.

Cheguei em casa por volta das 18:30 horas, e ainda encontrei algumas pessoas na capela1. A Missa tinha sido celebrada pelo padre Domingos. Fiquei ali conversando um pouco.

Por volta das 24 horas, como não conseguia dormir, voltei à capela. Fazia muito calor. Sentei-me no chão e comecei a falar sozinho, em voz alta:

– Por que isso, meu Jesus?… Por que isso vem a mim?… Não posso fazer nada!…

E tive uma crise de choro descontrolada; não conseguia parar de chorar. Devo ter ficado nesta situação por uns 10 minutos, quando senti uma mão sobre a minha cabeça. Era de um dos anjinhos, não sei qual, pois eram iguais.

Ele me disse:

– A doce Senhora deseja lhe falar.

Levantei-me de imediato:

– Onde Ela está? onde Ela está? – perguntei ansioso.

– Venha, vou levar você aonde está a doce Senhora; venha comigo.

O anjinho pegou na minha mão e me conduziu pelo corredor da capela até à sacristia. Quando entrei, Nossa Senhora estava na mesma cadeira em que tinha sentado anos atrás. Estava com um vestido branco, que cobria quase toda a cadeira. Por alguns instantes fiquei estatelado à porta, sem voz e sem atitude. Sentia que o meu coração ia sair pela boca. Sem falar nada e sem saber o que fazer, eu apenas olhava para Ela. Depois consegui dizer:

– A Senhora aqui, na capela, como isso pôde acontecer?…

– Sente-se perto de mim; precisamos conversar – Ela disse. Está perturbado com o que viu?

– Sim, estou muito perturbado, porque isso que vem acontecendo é gravíssimo e não posso fazer nada para remediar.

– É, você não poderá fazer nada para remediar, mas poderá fazer essa verdade ser anunciada.

– Como?… De Belo Horizonte, com poucos recursos, com esses padres, bispos e cardeais me perseguindo? Senhora, me permite uma observação que me acompanha desde quando veio falar comigo no apartamento?

– Sei qual é, mas fale, porque desta forma o seu pensamento se ordenará e o nosso diálogo terá curso. Fale.

– Fiz tudo o que a Senhora me pediu, mesmo sabendo que nada posso diante do poder da Igreja. Obedeci, mesmo quando sentia que não teria forças para as tarefas solicitadas. A Senhora me fez acreditar que eu seria aprovado pela Igreja, e depois a Senhora mesma disse que não estava interessada em aprovações. Colocou do meu lado, primeiro, um padre cassado pela Igreja e depois um segundo meio desmiolado. Tirou de mim recursos e pessoas que me ajudavam; hoje restam poucos.

– Tem mais alguma coisa? – Ela perguntou sorrindo.

– Tenho, mas não interessa; acho que já estou sendo indelicado…

– Muito do que falou, quem lhe deu foi o príncipe deste mundo, sabendo que estou lhe passando uma tarefa árdua, e você tem sido provado arduamente sobre ela. É minha luta, mas desde que consegui de você uma sinceridade de espírito, uma liberdade de palavra, conseguindo interpretar as lições de meu Filho no Evangelho, coisas ocultas que foram reveladas apenas a você, você se manteve correto na maioria das decisões, não se deixou levar pelo fermento desses fariseus do seu século, e o meu Coração Imaculado venceu. Neste tempo lhe dei uma basílica onde falar, pessoas que estão viabilizando os livros, uma casa onde morar, esposa dedicada, filho temente a Deus e, não é do seu conhecimento, uma legião de pessoas, padres e leigos que reconhecerão a sua dedicação a mim e estarão do seu lado na hora certa. Meu Filho em sua casa é uma resposta do Céu ao meu apelo2.

– Mas, Senhora, nunca poderia imaginar que a Senhora veio à Terra por três vezes e os responsáveis esconderam o verdadeiro motivo. Por quê?…

– Porque tiveram medo, deram trela à razão.

– A Senhora sabia que isso aconteceria?

– Sabia, mas o Altíssimo não condena ninguém sem antes passar pelo crivo do erro e depois pelo julgamento. Meu Filho disse que nesta hora não haveria fé na Terra. Onde existe fé, se a sua própria Igreja esconde o seu retorno? Os primeiros papas que souberam do meu pedido na capital francesa não acreditaram no recado; acorrentaram a mensagem nas gavetas do Vaticano e ordenaram outras providências para que fosse cunhada a medalha que eles tinham idealizado. Catarina se calou porque não podia fazer nada diante das circunstâncias, mas morreu angustiada ao ver que o meu pedido não tinha sido levado a sério como deveria ser. Anos depois, tentei de novo na França, desta vez numa pequena cidade, e lá proclamei: “Sou a Imaculada, aquela que deve anunciar a vinda de Jesus; por isto estou aqui”. E Bernadete foi obrigada a proclamar ao padre Cross coisas que Eu não havia pedido, e depois a encerraram num convento longe do lugar onde se encontrava comigo. Quando o papa da época teve o anúncio do fato, reportou-se ao anterior, mas não acreditou; fez da gruta um local de peregrinação, e o meu pedido foi pela segunda vez engavetado no recinto do Vaticano. Não desisti, porque os planos do Altíssimo exigiam três tentativas, e isto foi completado em terras portuguesas; foi a terceira menina por mim escolhida para dar a mensagem à Igreja. Pedi que ela fosse escrita e endereçada ao papa alguns anos depois das minhas aparições em Iria. Tanto Benedito XV quanto Pio XI estavam por demais ocupados e não deram importância ao que falei. Depois Pio XII veio a saber dos meus pedidos em Paris, Lourdes e Iria, e declarou ironicamente que aquilo não lhe dizia respeito. João XXIII quis remediar o problema abrindo a Igreja ao mundo, pedindo um Concílio. Achava que desta forma o Evangelho seria proclamado com maior liberdade e Jesus retornaria no coração das pessoas, e não como Eu tinha declarado em Paris, Lourdes e Iria. Resolveu também, por conta própria, engavetar os meus pedidos para que a Igreja proclamasse esse retorno de Jesus. Paulo VI, na trilha das omissões dos papas anteriores, nada fez. Preocupou-se com o Concílio, construção de salas, aumentou o número de cardeais não italianos e morreu angustiado em 1978 por ter ciência da omissão de que fora parceiro. Seu sucessor, João Paulo I, ao tomar conhecimento dos meus pedidos, quis tomar providências, mas foi interrompido aos 33 dias do seu pontificado pelas pessoas que não queriam que esse anúncio fosse feito. João Paulo II viveu atormentado, quis proclamar a verdade, mas foi obrigado a ir a Iria para tentar dar um ponto final naquilo que dava dor de cabeça à Igreja. Eu fiz acontecer a sua ida a ele3 para, numa última tentativa, incentivá-lo a falar a verdade. Mas tudo em vão, ele não teve coragem. Ele era o meu escolhido para falar a verdade, mas o príncipe deste mundo venceu, fazendo prevalecer o racional. (…) Agora nada resta a fazer, meu pequeno Daniel. Não posso obrigá-lo a nada, como nunca obriguei a ninguém. Fiz o que tive que fazer: proclamei em Paris, Lourdes e Iria, e Belo Horizonte foi a minha reta final neste processo. Hoje faz anos que lhe permiti que colocasse as suas mãos em meus pés. Hoje passo em sua cabeça as minhas mãos, sabendo que de você tudo será feito. Mesmo sabendo da derrota, que Jesus está a caminho, nada poderá impedi-lo, nem o fermento desses fariseus de que você tanto lembra.

– Senhora, me permite uma última observação?

– Pode falar.

– A Senhora é tão poderosa, por que não falou disso diretamente aos papas, ao invés de falar com meninas que seriam manipuladas?

– Não sou poderosa, somente o Altíssimo é poderoso. E para que Eu possa vir até a alguns, conforme venho a você, são necessários alguns quesitos raros, que os papas dessas épocas não tiveram.

– E La Salette?

– Chorei por não poder falar.

– E Medjugorje?

– Seriam manipulados e agravaria mais o estado de João Paulo. (…)

– Como posso proclamar isso, sabendo que não terei êxito?…

– Proclame-o, mesmo sabendo que a Igreja não aprovará a sua atitude. É o Davi diante do Golias. Você tem nas mãos uma pequena arma, que é a chave das interpretações das palavras de Jesus. Jogue-as a público e, se for da vontade do Altíssimo, o gigante tombará. Eu disse “sim” a Deus num momento adverso; diga agora o seu “sim” a esta verdade, sinta que pode com a ajuda de Deus fazê-la frutificar, porque você não é padre, e eles não poderão encerrá-lo num convento, não poderão calar a sua voz. Você foi escolhido pelo Céu, e ficarei ao seu lado até o último momento para recebê-lo aqui onde estou. Estou oferecendo a Deus a minha vitória pelo dever cumprido; faça o mesmo, e será tranquilo. Lembra que não lhe prometi nada neste mundo? Por que me cobra então vitórias racionais? Estou indo, mas estarei sempre ao seu lado.

Dizendo isto, Ela desapareceu.

 

1 Capela Magnificat, na Vila del Rey.

2 No dia 28 de agosto de 2005, o arcebispo de Belo Horizonte concedeu licença para que o Santíssimo Sacramento fosse conservado na Capela Magnificat.

3 No dia 30 de junho de 2004, Raymundo entregou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida a João Paulo II. Tratava-se de um sinal para que o papa fizesse o anúncio do retorno de Jesus.

 

Referência: LOPES, Raymundo. Quarta tentativa: Belo Horizonte. In: LEMBI, Francisco. Veni, Domine Iesu. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 65-70.

Referência: LOPES, Raymundo. Quarta tentativa: Belo Horizonte. In: LEMBI, Francisco. Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 183-187.