O Cardeal Oddi sobre o Terceiro Segredo de Fátima, o Concílio Vaticano II e a apostasia

Maike Hickson.

OnePeterFive, 28 de novembro de 2017.

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Tradução. Bruno Braga.

 

O Cardeal Silvio Oddi, que morreu em 2001, foi um dos prelados conservadores mais francos do nosso tempo. Ele também teve um lugar especial na história do debate sobre a mensagem de Fátima, enquanto insistentemente tentou fazer com que o Papa João XXIII publicasse o Terceiro Segredo. O jornal britânico The Telegraph relatou sobre a sua morte [1]:

“Em outra entrevista sem reservas, publicada em 1990, o Cardeal Oddi falou sobre a sua relação com João XXIII. No princípios dos anos 1960, quando atuava como seu secretário, ele disse ao Papa: ‘Santo Padre, há uma coisa que não posso perdoar-lhe’. O Papa, surpreso, perguntou a ele qual era. Oddi respondeu que ele não havia revelado o Terceiro Segredo de Fátima, transmitido às três crianças portuguesas pela Virgem Maria, em 1917, e que deveria ser revelado em 1960.

“’Não vamos falar sobre isso’, respondeu o Papa. Oddi disse que já tinha feito centenas de sermões e discursos sobre o assunto. ‘Eu falei para você não mencionar isso’, disse o Papa”.

Ao passar recentemente pelos arquivos do meu marido, o Dr. Robert Hickson, mas com vistas a outro assunto, aconteceu de eu encontrar um documento sobre o debate de Fátima. Nele, eu encontraria a famosa entrevista que o Cardeal Oddi concedeu, em abril de 1990, ao jornal mensal internacional 30 days. Uma vez que a entrevista não está disponível no site do próprio jornal [2], vou citar a cópia impressa do arquivo do meu marido. Mas, aqui está um link para a mesma entrevista [3], embora o link diga que a entrevista foi publicada por outro jornal, a revista Il Sabato. Devo apresentar partes dessa entrevista aos nossos leitores que podem ainda estar em processo de aprender mais sobre Fátima, assim como eu.

O Cardeal Oddi, que tinha sido secretário do Arcebispo Angelo Giuseppe Roncalli – futuro Papa João XXIII – durante o tempo em que ele serviu como núncio apostólico em Paris, disse em uma entrevista de 1990 que não acreditava que o então inédito Terceiro Segredo fosse principalmente sobre os desdobramentos na Rússia, Gorbachev e sua perestroika, etc. Ele responde a questão sobre se concorda com a tese russa:

“Não, pelo contrário, eu permaneço muito cético. Eu acredito, eu conheço João XXIII muito bem, desde que passei vários anos ao seu lado, quando ele estava na nunciatura em Paris. Se o Segredo tivesse uma preocupação com realidades consoladoras para a Igreja, como a conversão da Rússia ou o renascimento religioso no Leste Europeu, eu acredito que ele teria pressionado para tornar o Segredo público.

“Por temperamento, ele não hesitaria em comunicar coisas alegres (foi revelado que o Cardeal Roncalli, em um número de cartas para os seus amigos, praticamente anunciou a sua eleição como Papa). Mas, quando eu perguntei para ele por que, em 1960, quando a obrigação de manter o Segredo em segredo havia terminado, ele não tornou pública a última parte da mensagem de Fátima, ele me respondeu com um suspiro cansado: ‘Não venha com esse assunto, por favor’[…]”. [ênfase adicionada].

Mais adiante, na mesma entrevista, o Cardeal Oddi explica a sua própria teoria a respeito do conteúdo do Terceiro Segredo de Fátima:

“O que aconteceu em 1960 que poderia ter sido visto em conexão com o Segredo de Fátima? O evento mais importante sem dúvida foi o lançamento da fase preparatória do Concílio Vaticano II. Portanto, eu não ficaria surpreso se o Segredo tivesse alguma coisa a ver com a convocação do Vaticano II” […]

Quando perguntado, “Por que o senhor disse aquilo?”, Oddi respondeu em parte:

“Da atitude que o Papa João demonstrou durante a nossa conversa, eu deduzi – mas é somente uma hipótese – que o Segredo pode conter uma parte com um elo desagradável com isso. João XXIII convocou o Concílio com a intenção precisa de direcionar as forças da Igreja para a solução dos problemas relacionados a toda a humanidade, começando de dentro. Ou seja, ele queria o trabalho para começar com a perfeição evangélica sendo buscada por pessoas consagradas… Mas todos nós sabemos que, apesar dos grandes méritos do Concílio, muitas coisas tristes também aconteceram. Essas coisas tristes não são devidas ao Concílio, mas elas ocorreram combinadas com o Concílio. Por exemplo, o número de padres que abandonaram o sacerdócio: diz-se que foram . É preciso recordar a angústia com que o Santo Padre, Paulo VI, em 1968, clamou contra a ‘autodemolição’ que acontece na Igreja [incluir a citação sobre a ‘fumaça de Satanás’]”.

Concluindo suas próprias reflexões sobre o possível conteúdo do Terceiro Segredo de Fátima, o Cardeal Oddi acrescenta:

“Isto: de que eu não ficaria surpreso se o Terceiro Segredo fizesse alusão a tempos obscuros para a Igreja: graves confusões e apostasias preocupantes dentro do Catolicismo mesmo… Se considerarmos a grave crise que estamos vivendo desde o Concílio, não parecem faltar sinais de que essa profecia foi cumprida” [ênfase adicionada].

Essas palavras parecem ressoar as palavras da Irmã Lúcia de Fátima que só hoje foram apresentadas em uma entrevista do Catholic World Report com Kevin J. Symonds, um estudioso de Fátima que cita a vidente como tendo escrito uma carta ao Papa Paulo VI [4]:

“Na sua carta, a Irmã Lúcia fala sobre uma ‘revolta diabólica’ que seria ‘promovida por forças da escuridão’ com ‘erros’ cometidos contra Deus, contra a Sua Igreja, doutrina e dogmas”, conta Symond ao Catholic World Report. “Ela disse que a Igreja estava passando por uma ‘agonia no Getsêmani’ e que havia uma ‘desorientação mundial que está martirizando a Igreja’. Ela escreveu para encorajar Paulo VI como o Vigário de Cristo na Terra e dizer sobre a sua e a confiança de outros nele, em Cristo e na Sua Igreja no meio da revolta”.

Em 1984, o Cardeal Joseph Ratzinger concedeu uma entrevista para a revista Jesus (documento que também encontrei nos arquivos do meu marido, mas eu indico aqui um link que o disponibiliza na internet [5]), na qual o prelado responde por que o Terceiro Segredo ainda não havia sido revelado:

“Porque, de acordo com o julgamento dos Papas, o Terceiro Segredo não acrescenta nada (literalmente, ‘nada diferente’) ao que um cristão deve saber sobre o que resulta da Revelação: i.e., um chamado radical à conversão; a absoluta importância da história; os perigos que ameaçam a fé e a vida do cristão e, portanto, do mundo. E, enfim, a importância do novissimi (os últimos acontecimentos do fim dos tempos). Se isso não foi tornado público – pelo menos por enquanto -, é para evitar que a profecia religiosa seja confundida com uma busca do sensacional (literalmente, ‘do sensacionalismo’). Mas as coisas contidas no Terceiro Segredo correspondem ao que foi anunciado nas Escrituras e ao que foi dito de novo e de novo em várias aparições marianas, principalmente a de Fátima, no que já é conhecido o conteúdo de sua mensagem. Conversão e penitência são as condições essenciais para a ‘salvação’” [ênfases adicionadas].

À medida que continuamente vemos nossa histórica fé católica atenuada, diminuída e minada dia a dia – muito disso ainda sendo feito em nome do “Espírito do Concílio” – e frequentemente por altos prelados, não podemos parar de refletir a respeito da bem pensada teoria do Cardeal Oddi sobre o Terceiro Segredo. O Terceiro Segredo – isto é, a visão – revelado supostamente por completo em 2000, não nos explica o perigo da apostasia, nem os outros perigos que ameaçam a fé.

Eu não posso imaginar que Nossa Senhora, em 1917 e depois, não quisesse nos prevenir sobre o que estava por vir após 1960, caso certas coisas não fossem fielmente feitas. Rezo a Deus, que logo haja mais verdade e luz para nós sobre este importante assunto, no fim do centenário das aparições de Fátima.

NOTAS.

[1]. Cf. [].

[2]. Cf. [].

[3]. Cf. [].

[4]. Cf. [].

[5]. Cf. [].