Cardeal Sarah publicamente refutado pelo Papa Francisco sobre mudanças na Liturgia

Catequese
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Steve Skojec.

OnePeterFive, 23 de outubro de 2017.

[https://onepeterfive.com/cardinal-sarah-publicly-refuted-by-pope-francis-on-liturgy-changes/].

Tradução. Bruno Braga.

 

Em uma nova carta aberta refutando pontos estabelecidos pelo Cardeal Sarah [1], Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (CCD), o Papa Francisco deixou claro que não está de acordo com o comentário do Cardeal africano sobre o seu recente Moto Proprio litúrgico, Magnum Principium. Esta “chamada” pública do Cardeal responsável por supervisionar a Liturgia da Igreja está sendo celebrada como uma “reprimenda” por alguns elementos progressistas na Igreja, gerando pedidos para a renúncia de Sarah.

Na minha análise particular do Magnum Principium [2], argumentei que a delegação das traduções litúrgicas para as conferências episcopais foi a “antítese do autêntico desenvolvimento litúrgico”, representando uma “fragmentação intencional da ‘forma ordinária’ da Liturgia da Igreja, o que sem dúvida a enfraqueceria ainda mais. Em suma, enquanto a Quo Primum uniu e padronizou a Liturgia no Rito Latino, o Magnum Principium representou um momento litúrgico Torre de Babel. Especulei também sobre a ausência da assinatura do Cardeal Sarah no documento, que tinha a do Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o Arcebispo Arthur Roche:

“Eu não sei se é uma prática normal para o secretário da CCD acrescentar a nota explicativa no Motu Proprio papal sobre a Liturgia, mas a ausência do nome do prefeito daquela congregação – Cardeal Robert Sarah – foi notável”.

Uma história da Associated Press sobre o Congresso Summorum Pontificum [3] – publicada apenas uma semana após o lançamento do Motu Proprio – sugeriu uma razão alternativa para a ausência dessa assinatura, alegando que o Cardeal Sarah tinha sido “efetivamente colocado de lado pelo seu substituto”, o Arcebispo Roche, que “assinou a nota explicativa da nova lei de Francisco, permitindo às conferências de Bispos, em vez do escritório de Sarah, terem a palavra final nas traduções das Missas”.

Em um comentário publicado no início do mês em vários sites, e em vários idiomas [4], o Cardeal Sarah apareceu para afirmar sua autoridade, arremetendo contra interpretações do Magnum Principium como uma oportunidade irrestrita para descentralizar a Missa com diferentes textos regionais. Edward Pentin, do National Catholic Register, escreveu que o comentário de Sarah teve o efeito de “tranquilizar os fiéis, que o Vaticano continuará salvaguardando quaisquer mudanças ou novas traduções litúrgicas para garantir que elas permaneçam fiéis ao original em latim” [5]. Pentin também observou que o Cardeal Sarah reafirmou “que o ‘texto de referência’ para as traduções litúrgicas permanece sendo a Liturgiam Authentican” [6], uma instrução publicada em 2001 pela Congregação para o Culto Divino “que visava assegurar ‘na medida do possível’ que os textos devem ser traduzidos do original em latim ‘integralmente e da forma mais exata'”.

Agora, a carta aberta do Papa Francisco de 22 de outubro para o Cardeal Sarah refutou vários pontos-chaves do comentário de Sarah, incluindo a ideia de que o Vaticano teria a palavra final sobre as traduções litúrgicas propostas pelas conferências dos Bispos [7]. O Papa também disse que um número de sites publicou “erroneamente” o comentário em nome do Cardeal Sarah e pediu a ele que assumisse a responsabilidade de entrar em contato com esses sites – assim como “todas as conferências episcopais e… os membros e consultores do Dicastério” – para ver se eles receberam o seu próprio esclarecimento. Não está claro a quem o Papa confiou a redação do comentário, desde que ele apareça sob a assinatura de Sarah.

O veterano vaticanista Marco Tosatti diz que a resposta do Papa está sendo “celebrada como uma humilhação do Cardeal” e tem sido “acompanhada de pedidos por sua renúncia” [8]. Embora alguns, como o padre blogueiro John Zuhlsdorf, tenham proposto uma interpretação menos inflamatória dos eventos [9], Tosatti vê neles não apenas um incidente isolado, mas parte de um padrão mais amplo:

“No início deste outono, o Papa Francisco publicou o Magnum Principium, um documento que permite às conferências dos Bispos maior liberdade para fazerem suas próprias traduções da liturgia e dos textos sagrados. O Cardeal Sarah respondeu com uma carta que oferece uma leitura restritiva do documento, preservando tanto quanto possível o poder de Roma para se proteger contra traduções equivocadas (como do desejo dos Bispos alemães de traduzir pro multis como “por todos”, em vez de “por muitos”, como é correto. O Papa Francisco agora declarou que Sarah está errado, e que o Magnum Principium reduziu de fato o pode de supervisão de Roma.

“Foi uma humilhação calculada para o Cardeal Sarah – e não só para ele. Para Bento XVI também, uma vez que ele é o grande defensor da “reforma da reforma”, uma tentativa de corrigir as inovações litúrgicas que surgiram com o Concílio Vaticano II. E para São João Paulo II, que em 2001 publicou o documento Liturgiam Authenticam, que Francisco procurou esvaziar com o Magnum Principium.

“O Cardeal Sarah sofreu uma humilhação semelhante há pouco mais de um ano, após estimular padres e Bispos a celebrarem a Missa ad orientem, de frente para o leste, conforme a prática antiga da Igreja. Foi outro esforço para avançar a “reforma da reforma”. O Cardeal disse que falou com o Papa sobre o assunto, e que o Papa deu o seu consentimento à proposta. Se assim foi, o Vaticano não reconheceu o fato em sua nota contundente de negação.

“Outra humilhação aconteceu quando o Papa eliminou a maioria dos membros existentes da Congregação para o Culto Divino e os substituiu por pessoas mais hostis a Sarah e às suas visões litúrgicas”.

Mas não é tudo. Tosatti relata que tinha fontes que confirmavam um rumor circulando há meses sobre uma liturgia inter-religiosa:

“E existe a questão da ‘Missa Ecumênica’, uma liturgia projetada para unir católicos e protestantes em volta da Mesa Sagrada. Embora nunca oficialmente anunciada, um comitê com referência direta ao Papa Francisco está trabalhando nessa liturgia há algum tempo. Certamente esse tópico é da jurisdição da Congregação para o Culto Divino, mas o Cardeal Sarah não foi oficialmente informado da existência do comitê. Segundo boas fontes, o secretário de Sarah, Arthur Roche – que mantém posições opostas às de Bento XVI e de Sarah – está envolvido, assim como Piero Marini, braço direito do Monsenhor Bugnini, autor de trabalhos notáveis como La Chiesa in Iran e Novus Ordo Missae”.

John L. Allen, em comentário sobre a matéria no seu site Crux [10], sugere que a razão pela qual o Papa se mobilizou tão rapidamente para chamar a atenção da interpretação de Sarah do Magnum Principium, enquanto evitou responder outras críticas públicas, como os dubia, foi a posição de Sarah como “a principal autoridade litúrgica do Vaticano” e por estar no comando do “departamento encarregado de colocar o documento em ação”.

“Este é um Papa, afinal”, escreve Allen, “que disse em uma entrevista de 2016 que ‘não perde o sono’ por causa das críticas às suas decisões, e que não faz do envolvimento com essas críticas um princípio de governança”. No entanto, Allen reconhece que “este não é o primeiro racha entre Francisco e Sarah, e provavelmente será reforçada em alguns meses a questão permanente do porquê o Papa simplesmente não faz uma mudança”.

Parece justo perguntar também por que o Cardeal Sarah mesmo não faz essa mudança. Como o Cardeal Müller antes dele [11], Sarah tem sido evitado e isolado com relação a assuntos de sua competência. Como Müller, mudanças foram feitas no dicastério chefiado por ele sem o seu consentimento. E como Müller, é provável que, no final, ele seja eliminado por completo. Parece que Sarah já se tornou irrelevante – uma estratégia, Allen relatou anteriormente [12], que o Papa admitiu utilizar quando se tem que trata com “escolhas pessoais difíceis”.

Talvez seja a hora de o franco Cardeal africano fazer o que Müller falhou, antes que seja tarde: tomar uma posição e renunciar em protesto, em vez de permitir que posteriormente seja cooptado por uma agenda que não é criação sua.

NOTAS.

[1]. Cf. [http://lanuovabq.it/it/la-lettera-del-papa-al-cardinale-sarah].

[2]. Cf. [https://onepeterfive.com/new-motu-proprio-antithesis-authentic-liturgical-development/].

[3]. Cf. [http://www.chicagotribune.com/news/nationworld/sns-bc-eu-rel–vatican-liturgy-wars-20170914-story.html].

[4]. Cf. [https://pt.scribd.com/document/361279576/Cardinal-Robert-Sarah-s-Commentary-on-Magnum-Principium#from_embed] (em inglês).

[5]. Cf. [http://www.ncregister.com/daily-news/cardinal-sarah-confirms-vatican-retains-last-word-on-translations].

[6]. Cf. [http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccdds/documents/rc_con_ccdds_doc_20010507_liturgiam-authenticam_en.html].

[7]. Cf. [http://www.catholicherald.co.uk/news/2017/10/23/pope-publicly-clarifies-new-translation-rules-in-letter-to-cardinal-sarah/].

[8]. Cf. [https://www.firstthings.com/web-exclusives/2017/10/the-war-against-cardinal-sarah].

[9]. Cf. [http://wdtprs.com/blog/2017/10/what-does-pope-francis-letter-to-card-sarah-really-say/].

[10]. Cf. [https://cruxnow.com/news-analysis/2017/10/23/pope-francis-quick-answer-dubia/].

[11]. Cf. [https://onepeterfive.com/beleaguered-cardinal-muller-to-exit-cdf-july-2nd/].

[12]. Cf. [https://cruxnow.com/analysis/2016/12/08/rather-pulling-nail-pope-francis-finds-another-tool/].

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