Vaticano assinaria o acordo com a China sem lê-lo

Catequese
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Infovaticana, 20 de março de 2018.

Gabriel Ariza.

[https://infovaticana.com/2018/03/20/el-vaticano-firmaria-el-acuerdo-con-china-sin-leerlo/].

Tradução. Bruno Braga.

As negociações entre a Santa Sé e a China estão muito avançadas, e fala-se de um acordo “iminente”. Parece que, conforme o que o InfoVaticana pôde saber, a Secretaria de Estado tem ordens de Francisco de que “se deve assinar a todo custo”. Ser o primeiro Papa e o primeiro jesuíta a ser recebido na China é o objetivo internacional prioritário de Francisco.

 

O Papa Francisco quer um acordo com a China a qualquer preço. O objetivo está muito claro: ser o primeiro Pontífice e o primeiro jesuíta a ser recebido com honras no país mais populoso da Terra. Para isso, ordenou à Secretaria de Estado que assine um acordo com a tirania comunista “o quanto antes”, evitando “um novo caso Midszenty”, como assinalou em sua audiência com o Cardeal Zen [1].

A negociação fez os assessores do Papa recordarem aquela com a Igreja Ortodoxa Russa pela declaração conjunta, na qual o Papa Francisco exigiu que o Cardeal Kurt Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, aceitasse o que os ortodoxos haviam apresentado.

No livro El otro Francisco [tradução livre: “O outro Francisco”] [2], o Cardeal Koch explica que o fato de o Papa ter expressado o seu desejo de encontrar o patriarca ortodoxo russo “sem colocar nenhuma condição” contribuiu para facilitar o encontro entre Francisco e Kiril. “Talvez a insistência do Papa Francisco tenha ajudado muito. Recordo que no voo de volta de Constantinopla, ele disse: ‘Gostaria de me encontrar com o patriarca de Moscou. Se ele disser quando e onde, eu estarei de acordo’. Sim, essa disponibilidade ajudou muito”, reflete.

“O Vaticano está próximo de se render ao Partido Comunista”.

A intenção do Vaticano de fechar a todo custo um acordo com a China recebeu duras críticas por parte do Cardeal Zen, Bispo Emérito de Hong Kong e ícone da resistência da Igreja contra a tirania comunista. Em uma carta com a data de 5 de fevereiro, ele fala de “rendição” diante do Partido Comunista.

“Nos últimos dias, os irmãos e irmãs que vivem no continente chinês ficaram sabendo que o Vaticano está próximo de se render ao Partido Comunista chinês, e por isso ficaram perturbados”, afirma na carta. O Bispo Emérito assinala ainda que “já que os bispos ilegítimos e excomungados serão legitimados, enquanto os legítimos serão obrigados a se afastar, é lógico que os Bispos legítimos e clandestinos estão preocupados com o seu destino”.

Em uma carta anterior, o Cardeal Zen confirmou a informação publicada pela AsiaNews, que indicava que a Santa Sé havia pedido a dois Bispos chineses da Igreja fiel a Roma para que se colocassem de lado e cedessem os seus postos a bispos da cismática Igreja Patriótica. Em nota adicional à sua carta, o purpurado esclareceu que “o problema não é a renúncia de Bispos legítimos, mas a solicitude em acomodar os ilegítimos e inclusive excomungados”.

“A questão da eleição dos Bispos é crucial”.

A gravidade dessa notícia obrigou o secretário de Estado da Santa Sé, o Cardeal Parolin, a enfrentar essa informação no curso de uma entrevista concedida ao Vatican Insider, na qual abordou a situação do diálogo entre a Santa Sé e a República Popular da China [3]. Parolin não negou que a dois Bispos fiéis, pelo menos, foi ordenado abdicar em favor do seu homólogo cismático, e ainda afirmou que “se a alguém se pede um sacrifício, grande ou pequeno, é preciso deixar claro a todos que este não é o preço de uma negociação política, mas é parte da perspectiva evangélica de um bem maior, o bem da Igreja de Cristo”.

O secretário de Estado do Vaticano manifestou que, no atual momento, “a questão da eleição dos Bispos é crucial”, e expressou a sua confiança de que, “uma vez considerado adequadamente o ponto da nomeação dos Bispos, as dificuldades restantes já não deveriam impedir os católicos chineses de viverem em comunhão entre si e com o Papa”.

E Parolin acrescenta: “o que se espera é chegar, quando Deus quiser, a já não ter que falar de Bispos legítimos e ilegítimos, clandestinos e oficiais na Igreja chinesa, mas a que as pessoas se encontrem como irmãos, aprendendo novamente a linguagem da colaboração e da comunicação”.

A pressa do Vaticano frustra a aproximação de “fiéis” e “cismáticos” na China.

Em sua urgência para fechar um acordo formal e colocar por escrito a aproximação entre o Governo chinês e a Santa Sé, o Vaticano está cometendo, no entanto, um grave erro de cálculo.

Sobre o papel, há na China duas igrejas católicas: uma criada e permitida pelo Governo comunista, e controlada por ele, considerada até o momento cismática por Roma; e uma fiel a Roma, sempre perseguida e, com frequência, mártir.

Mas, por debaixo do formal, a realidade é bastante diferente. Na realidade, os fiéis da Igreja Patriótica vivem uma fé idêntica aos outros, dialogam com eles e olham Roma com obediência semelhante na prática. O mesmo ou muito parecido – com a exceção dos Bispos mais ilustres, os das grandes cidades – pode-se dizer do estamento clerical, Bispos e sacerdotes, que buscam por todos os meios possíveis o reconhecimento da Santa Sé.

Mas essa aproximação – não perfeita, mas sim positiva – é possível precisamente porque funciona fora do radar de Pequim. E o que faz o Vaticano ao insistir em um acordo formal é justamente alertar o Governo comunista, que voltou a fixar sua terrível atenção sobre os católicos.

A China adora a China, e exige dos chineses o mesmo. E deixar que um Estado distante, o Vaticano, decida sobre a nomeação de cidadãos chineses para o que for, embora se trate de funções de um culto estrangeiro, desperta todos os receios do Partido.

Não é apenas uma teoria: Pequim começou a se mobilizar, a aprovar novas medidas de controle de atividades religiosas e a mandar escavadeiras para demolir igrejas.

É justamente isso o que denunciava o Cardeal Zen em sua carta, na qual assegurou que, embora o Vaticano tente alcançar a todo custo um acordo com o Governo chinês, desde o dia 1 de fevereiro estão em vigor no país novas regulamentações governamentais sobre a atividade religiosa. Medidas que levaram os sacerdotes clandestinos de Xangai a alertarem os fiéis que forem às suas Missas sobre o risco de serem presos.

NOTAS.

[1]. Cf. [https://infovaticana.com/2018/01/30/cardenal-zen-fui-roma-asegurarme-nuestra-voz-llegara-al-santo-padre/].

[2]. Cf. [https://tienda.infovaticana.com/?product=el-otro-francisco-2].

[3]. Cf. [https://infovaticana.com/2018/01/31/cardenal-parolin-justifica-la-actuacion-del-vaticano-la-cuestion-china/].

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