O apogeu da heresia modernista

Catequese
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Germán Mazuelo-Leytón analisa os princípios e a história do Modernismo, bem como a sua influência na Igreja de hoje. Os modernistas vêm empreendendo o esforço de adaptar a Igreja às tendências mundo, ao invés de evangelizar o mundo com a Verdade eterna.

Adelante la Fe, 27 de julho 2018.

Germán Mazuelo-Leytón.

[https://adelantelafe.com/apogeo-de-la-herejia-modernista/].

Tradução. Bruno Braga.

  1. Radiografia: autor, Cardeal Gehrard Müller.

O prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, em uma entrevista para o Catholic World Report, faz soar o alarme diante das tentativas de converter a Igreja ao mundo, em vez converter o mundo a Deus.

O entrevistador assinala que desde 2014 há na Igreja uma série contínua de conflitos e tensões que envolvem muitos Bispos alemães. E pergunta ao Cardeal qual é o pano de fundo desse fenômeno.

“Um grupo de Bispos alemães, com o presidente da Conferência Episcopal à frente, se vê como aquele que define a tendência da Igreja Católica rumo à modernidade. Consideram a secularização e a descristianização da Europa como uma evolução irreversível. Assim, todas as doutrinas da fé que se opõem à corrente principal, ao consenso da sociedade, devem ser reformadas.

“Uma das consequências disso é o pedido para dar a Sagrada Comunhão a pessoas que não têm a fé católica e também para aqueles católicos que não estão em estado de graça santificante.

“Também estão na agenda: a benção de casais do mesmo sexo, a intercomunhão com os protestantes, a relativização da indissolubilidade do matrimônio sacramental, a introdução dos viri probati com a abolição do celibato sacerdotal, a aprovação das relações antes e fora do casamento. Estes são os objetivos, e para alcançá-los estão dispostos a aceitar a divisão na Conferência Episcopal.

“Os fiéis que levam a sério a doutrina católica e a profissão de fé católica são marcados como conservadores e expulsos da Igreja, expostos a campanhas difamatórias da mídia liberal e anticatólica.

“Para muitos Bispos, a verdade da Revelação e da profissão de fé católica são apenas mais uma variável nas políticas de poder dentro da Igreja. Alguns deles citam acordos individuais com Francisco e pensam que suas declarações em entrevistas com jornalistas e figuras públicas, que são qualquer coisa menos católicos, oferecem um pretexto para diluir a verdade definida infalível, o dogma. Para dizer sem rodeios, enfrentamos um clamoroso processo de protestantização.

“Hoje, para muitas pessoas, ser aceito pela mídia é mais importante que a verdade, pela qual também devemos sofrer. Pedro e Paulo sofreram o martírio por Cristo em Roma, centro do poder naquele tempo. Não foram celebrados pelos governantes deste mundo como heróis, mas sim ridicularizaram Cristo na cruz. Nunca devemos esquecer a dimensão martirológica do ministério petrino e do ofício episcopal” [1].

  1. A heresia modernista.

Etimologicamente, modernismo significa um amor exagerado pelo moderno, flertar com ideias modernas, o abuso do moderno [2]

O Modernismo é mais que uma heresia, é um conjunto de heresias nascidas no seio da Igreja sob a influência da Filosofia e da crítica moderna com a pretensão de “elevar e salvar a religião e a Igreja Católica por meio da renovação radical“.

A origem remota do modernismo:

  1. Revolução protestante. O grito de Lutero significou um marco capital no processo da modernidade. Lutero é a recusa de Roma, a recusa da constituição hierárquica da Igreja. Continuava aceitando Deus e Cristo, como Verbo encarnado, mas tomava distância da Esposa de Cristo, Sua amada Igreja [3].
  2. O Iluminismo. O segundo marco nesse processo de separação foi a Revolução Francesa e a cosmovisão sustentada por ela. Vemos a Revolução Francesa como obra da Maçonaria, como a exaltação da razão: em outras palavras, vemos o homem recusar Deus para erigir-se como seu próprio dono e ser inteiramente independente.
  3. Os “teólogos” do início do século XX.

O Modernismo não surgiu de repente, tampouco foi um fato isolado na história da Igreja. Foi uma parte integral da grande luta da Igreja contra aqueles que buscavam adaptar os ensinamentos e formas de ser da Igreja às ideias e regimes políticos derivados do Iluminismo e da Revolução Francesa.

As condenações do indiferentismo de Lamennais (1834) e outros, o conjunto de erros reunidos no Sillabus de Pio IX (1864) são as etapas do erro e os sintomas da tempestade que estava por vir para a Igreja. A nova heresia amadureceu na França e, apesar das condenações pontifícias contra o Modernismo, pôde difundir-se e organizar-se especialmente com Loisy, na Inglaterra com Tyrrel, na Itália com Buonaiuti, Murri, Minocchi, e em alguns ambientes católicos alemães, com amplitude e penetração cada vez mais preocupantes [4].

Por sua própria natureza, o Modernismo – a síntese de todas as heresias, segundo o Papa São Pio X – é difícil de ser definido, pois não tem um credo oficial. Por essa razão, é como tentar pregar uma gelatina na parede.

Esta é a estratégia dos modernistas: “com astuciosíssimo engano costumam apresentar suas doutrinas não coordenadas e juntas como um todo, mas dispersas e como separadas umas das outras, a fim de serem tidos por duvidosos e incertos, ao passo que de fato estão firmes e constantes, convém, Veneráveis Irmãos, primeiro exibirmos aqui as mesmas doutrinas em um só quadro, e mostrar-lhes o nexo com que formam entre si um só corpo, para depois indagarmos as causas dos erros e prescrevermos os remédios para debelar-lhes os efeitos perniciosos” [5].

  1. Loisy, ideólogo do Modernismo, faz praticamente a mesma afirmação quando escreve que toda a teologia católica, inclusive em seus princípios fundamentais, a filosofia geral da religião, a lei divina e as leis que governam nosso conhecimento de Deus, deve ser julgada diante desse novo tribunal [6].

A missão dos modernistas, segundo Tyrell, era golpear e golpear a velha carcaça da Igreja Romana [7].

“Os modernistas confessos formam um grupo bastante definido de homens pensantes, unidos no desejo comum de adaptar o catolicismo às necessidades intelectuais, morais e sociais de hoje” [8].

O Modernismo é um amálgama de catolicismo verbal e racionalismo naturalista, baseado em três falsos sistemas: 1. Agnosticismo (do kantismo), que combina o subjetivismo, fenomenismo e relativismo, rebaixando o valor do conhecimento racional; 2. Imanentismo, segundo o qual a consciência humana leva virtualmente em si mesma toda a verdade, inclusive a divina, que se desenvolve sob o estímulo do sentido religioso (da doutrina de Kant e de Schleiermacher); 3. Evolucionismo radical, em que a verdadeira realidade não é o ser, mas o devir dentro e fora do homem (de Hegel, e ainda mais de Bergson) [9].

Eles negam: 1. A divina inspiração e infalibilidade das Sagradas Escrituras; 2. que o homem foi criado à imagem de Deus; 3. que possa haver milagres; 4. o nascimento virginal de Cristo; 5. a divindade de Cristo; 6. o caráter expiatório de sua morte; 7. sua ressurreição histórica. Dessa forma, descem até o agnosticismo e ao ateísmo.

O abade Callanti disse: O Modernismo é moderno em um falso sentido da palavra, é um estado de consciência mórbida entre os católicos, e especialmente entre os católicos jovens, que professam vários ideais, várias opiniões e tendências. De vez em quando essas tendências se transformam em sistemas, que devem renovar as bases e a superestrutura da sociedade, da política, filosofia, teologia, da própria Igreja e da religião cristã.

A árdua tarefa de desmascarar a heresia coube a Pio X e, fato quase único na história da Igreja, o Modernismo desabou quase que imediatamente. A primeira intervenção de Pio X foi o decreto do Santo Ofício Lamentabili, de 3 de julho de 1907, que sintetiza em 65 artigos os novos erros. O decreto foi transformado em condenação solene com a Encíclica Pascendi, de 8 de setembro do mesmo ano. A Encíclica, com grande surpresa para os promotores mesmos do Modernismo, condensou a síntese lógica de seus princípios com uma “exposição magistral e uma crítica magnífica” (G. Gentile). Finalmente, para evitar todo compromisso e ambiguidade na esfera do ensinamento e da disciplina eclesiástica, Pio X, com o motu proprio Sacrorum Antistitum, de 1o. de setembro de 1910, fazendo remissão expressa aos dois documentos precedentes, publicou a fórmula do “juramento anti-modernista”, que apresenta ao mesmo tempo os pontos firmes da doutrina católica e os principais erros do Modernismo que pretendia quebrar [10].

“Se São Pio X não tivesse fulminado a heresia modernista, o mundo teria rapidamente marchado para o panteísmo e para o ateísmo. Como resultado, a ação do comunismo em toda a terra não teria encontrado os enormes obstáculos que encontrou.

“A condenação do Modernismo foi, portanto, um evento histórico tão importante quanto a vitória em Lepanto. Assim, [ao canonizar São Pio X], Pio XII deve ser eternamente recordado pela humanidade, já que nos deu um grande santo como modelo e protetor” [11].

III. Progressismo: o Modernismo militante.

  1. Na Liturgia. Para os modernistas, a Liturgia trata principalmente de sentimentalismo, não de adoração.
  2. “Evolução do dogma”. A hermenêutica da descontinuidade, com a qual os modernistas de hoje consideram como obsoleto tudo o que é anterior ao Concílio Vaticano II.
  3. Interpretação da Sagrada Escritura. Por exemplo, o Cardeal Kasper, que nega abertamente a historicidade dos milagres de Cristo.

Os fautores do erro já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos [12].

O velho desejo modernista de salvar o mundo sem Deus reaparece no progressismo, ergo, o progressismo luta contra o Estado “totalitário” espanhol, pois reconhece em Deus o Salvador. Em contrapartida, não luta contra o Estado totalitário soviético, porque esse Estado quer o mundo sem Deus [13].

A heresia que nasceu sob o nome de Modernismo tinha a finalidade de infiltrar a Igreja; fazer com que seus adeptos chegassem aos postos da Hierarquia da Igreja; e assim modificá-la em sentido herético: não de fora para dentro, mas desde dentro dela mesma, ou seja, em nome da Igreja, ocupando postos de direção para assim transformá-la em sentido heretizante.

As ideias dos adeptos dessa heresia modernista levariam a Igreja, no campo social, a uma posição francamente socialista, com tendência comunista.

Esses males foram vistos pelo Santo Pontífice com um olhar angelicamente límpido, que o levou a fulminar a heresia modernista em vários documentos, entre os quais, sem dúvida alguma, o mais famoso foi a Encíclica Pascendi [14].

Para Jacques Maritain, o Modernismo combatido por “São Pio X não era mais que um modesto resfriado” frente ao de nossos dias [15].

Chamou-se progressismo católico a união com fins políticos entre comunistas e católicos, no qual dão as mãos duais doutrinas e uma política. As doutrinas são: o personalismo ético e o humanismo cristão. A política (que também é doutrina) é o comunismo. As doutrinas são teóricas, a política é prática; de modo que a política, conscientemente, se deu a instrumentalizar as doutrinas para os seus fins particulares. A política instrumentalizante, o comunismo, é tenaz, astuta e fanática; foi o que deu forma a todo o progressismo moderno, e põe a seu serviço inumeráveis idiotas úteis, leigos e clérigos.

O progressismo nos convida a quebrar toda oposição com o erro, quer se trate da Maçonaria, do Comunismo, Protestantismo; o católico deve dialogar, compreender… mas, jamais ver um erro.

O progressismo buscou sua coerência doutrinal no Modernismo, que lhe permitia aproximar-se mais do comunismo marxista. Houve uma simbiose, um encontro “fraterno” entre esses cristãos e o marxismo.

O catolicismo, capturado pelo arcabouço doutrinal do Modernismo, esconde envergonhado a verdade; renega e cala a Verdade que é Cristo, renega a obra de Cristo no mundo, renega a civilização cristã para ter perdoada, pela insolência contra o mundo, a sua condição de cristão [16].

Se os erros modernistas foram estendidos e são validados e até promovidos pelas mais altas autoridades da Igreja, como uma mancha de azeite sobre a Verdadeira Fé, causando danos espantosos nas almas, foi em parte porque os princípios e condenações da Encíclica Pascendi foram esquecidos. Durante o meio século precedente, desde a conclusão do “Concílio Vaticano II”, esse conjunto de heresias disseminou e continua disseminando o veneno da morte nos seminários, nas paróquias, nas associações eclesiais.

Nesta situação – escrevia o padre Miguel Poradowski – a única coisa que nos resta para evitar o envenenamento do pensamento cristão pelo marxismo, tanto do clero como dos fiéis, é denunciar concretamente a presença do marxismo na teologia para que cada pessoa de boa vontade, isto é, todo cristão que deseje conhecer a autêntica doutrina de Cristo e o verdadeiro ensinamento da Igreja, possa distinguir o trigo do joio, a verdade da mentira [17].

Embora Jesus fosse amável com os pecadores e com os que tinham se perdido, não respeitou suas falsas ideias, por mais sinceras que pudessem parecer. Ele amava todos, mas os instruiu para convertê-los e salvá-los [18].

NOTAS.

[1]. Cf. [https://www.accionfamilia.org/crisis-de-la-iglesia/cardenal-muller-es-la-protestantizacion-de-la-iglesia/].

[2]. GAUDAUD, Abate. La Foi catholique, I, 1908, p.248.

[3]. SÁENZ S.J., P. ALFREDO. La realeza de Crsto y la apostasía del mundo moderno.

[4].  FABRO, CORNELIO. Enciclopedia Cattolica.

[5]. SAN PIO X. Pascendi, Introdução.

[6]. LOISY. Simples réflexions.

[7]. Carta de 28 de novembro de 1907, ibid., p. 78.

[8]. LOISY. Simples réflexions.

[9]. PARENTE, PIETRO. Diccionario de teología dogmática.

[10]. FABRO, CORNELIO. Enciclopedia Cattolica.

[11]. CORREA DE OLIVEIRA, PLINIO. O cinqüentenário da Pascendi. Catolicismo, setembro de 1957.

[12]. SAN PIO X. Pascendi, Introdução.

[13]. GARCÍA VIEYRA O.P., Fray ALBERTO. Modernismo y progresismo.

[14]. CORREA DE OLIVEIRA, PLINIO. Entrevista concedida a una radio de Brasil, 1990.

[15]. MARITAIN, JACQUES. El Campesino de Garona, p. 31.

[16]. GARCÍA VIEYRA O.P., Fray ALBERTO. Modernismo y progresismo.

[17]. El marxismo en la teología.

[18]. São Pio X.

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